quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fifa: falta inteligência para fidelizar os apaixonados

Entre gols e vuvuzelas, torcedor sofre na África do Sul com falta de logística para assistir aos jogos. Está faltando, por acaso, cuidado e um olhar especial ao cliente?
Como já estive presente em cinco Copas do Mundo, posso afirmar: a FIFA é mais marketing e arrogância do que gestão e logística. Como não sou sãopaulino, e sim santista, saiba que essa observação não se constitui em vingança pelo corte do Morumbi do torneio de 2014. Portanto, coloco aqui meu olhar de administrador e homem de negócios sobre as ações que envolvem a organização dos eventos do esporte mais popular do mundo.
Passemos a lupa sobre o tema. No Brasil, por exemplo, apenas uma empresa pode negociar os pacotes da FIFA, o que elimina a possibilidade de escolha, seja de hotéis, voos e datas. Que livre mercado é esse? Além disso, essas empresas selecionadas geralmente cobram caro e entregam pouco, muito pouco. Equívoco gravíssimo da FIFA. O ideal seria permitir que essas companhias disputassem a clientela, cada uma procurando oferecer melhor atendimento e serviço aos torcedores.
Ahhhhhh, para que, né? Afinal, já tem tanta competição entre as seleções. E, acredite se quiser, a FIFA também define toda a logística do acompanhamento da competição, ou seja, a escala de jogos e até onde cada torcida será acomodada. Essa autoridade se estende ao agendamento dos voos entre cidades, segundo informa o agente oficial da entidade no Brasil.
Acompanhe comigo no replay:
- os dois primeiros jogos do Brasil foram disputados em Johanesburgo. Mas a torcida brasileira estava em Cape Town, a “apenas” 1.387 quilômetros dali. Alguns grupos saíram do hotel às 4h45 da matina. Embarcaram às 7h30, voaram duas horas, chegaram a Johanesburgo às 10h, ficaram num shopping-cassino (epa, será que era para tudo isso?) até as 15h, chegaram ao estádio às 17h e esperaram três horas e meia pelo início da partida.
Se alguém ainda tinha alguma energia, perdeu-a no retorno a Cape Town. O povo chegou ao hotel às 6h do dia seguinte. Tudo isso sem descanso, sem banho, sem nada, como se os torcedores compusessem um grupo de refugiados de guerra. Será ausência de uma inteligência de logística? Será falta de respeito aos clientes-torcedores? Ou será falta dos dois?
E são esses iluminados que se julgam capazes de nos ensinar a organizar uma Copa do Mundo. Acreditem: tem muito mais chantilly do que bolo nesse negócio da FIFA. Portanto, nós, apaixonados pelo esporte bretão, precisamos assestar nossas vuvuzelas críticas contra os ouvidos das autoridades da FIFA. Se não for assim, esses erros, abusos e trapalhadas tendem a se repetir no Brasil. Torcedor não é gado!
Carlos Alberto Júlio
Empresário, palestrante, professor e autor. Vice-presidente do conselho de administração da Tecnina e conselheiro da Camil Alimentos.

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