quinta-feira, 31 de março de 2011

O jovem e o primeiro voto

O primeiro amor, a gente nunca esquece. O primeiro voto, a gente nunca lembra. Amor está para voto na mesma distância que sentimento está para dever, mas, entre uma e outra coisa, existe algo que as aproxima. Ambos significam escolha. No primeiro caso, uma escolha que pode ou não ser definitiva, com ou sem consequência; e, no segundo caso, uma escolha sempre determinante e sem volta.

Sem deixar de lado o amor, vamos falar um pouco do primeiro voto.

Esse novo universo de eleitores é constituído de jovens livres de preconceitos e de vícios, ainda não contaminados por fisiologismos e atitudes aéticas que, infelizmente, estão presentes também na política. Isso os mantém capazes de se indignar diante de maus exemplos e contra eles reagirem de forma eficaz, não só porque tais comportamentos não guardam sintonia com o que aprenderam em casa e na escola, como também por idealismo, próprio da idade.

Consciência cívica e idealismo, componentes da força dos jovens, podem fazer do primeiro voto uma tomada de atitude em relação aos problemas do país. Quem não se lembra dos “caras-pintadas”? Jovens que, em todo o Brasil, saíram às ruas pelas “diretas-já” e conquistaram irreversivelmente, para a nossa democracia, as eleições diretas.

E qual deve ser a atitude de um jovem em seu primeiro voto? Deve ser, acima de tudo, de exigência. O jovem deve querer de seu candidato mais do que uma simples ficha limpa. Aliás, este deveria ser critério de inabilitação por parte dos partidos, antes mesmo da fase de registro. Em outras palavras, um partido nunca deveria permitir que um filiado seu se aventurasse a uma candidatura se não fosse ficha limpa. Curioso é que se vê, por aí, candidatos vangloriando-se de serem ficha limpa, tratando isso como diferencial inclusive em suas peças publicitárias. Absurdo que condição moral indispensável seja transformada em vantagem competitiva.

O jovem eleitor deve ser rigoroso em suas exigências. E uma dessas exigências é que o candidato tenha experiência. Não necessariamente experiência de militância política, mas experiência de vida, de trabalho. O mínimo que se pode desejar de alguém que pretende ser um representante da sociedade é que ele já tenha feito alguma coisa por essa sociedade. Já foi servidor público, empresário ou já trabalhou em projetos sociais? Como se comportou nessas funções? Não tem sentido escolher alguém que não tenha realizado nada na vida, nem na iniciativa pública nem na privada, ou alguém que ostente uma folha de fracassos. O candidato terá uma missão e deve provar que está preparado para ela ou que tem as condições de bem exercê-la.

Um cuidado especial é com a conduta ética do candidato. Quem vai lidar com recursos públicos e decidir no interesse da coletividade tem que apresentar lisura nos negócios de sua vida privada. Esse pode ser um indicativo de que o candidato não vai colocar o interesse próprio acima interesses da coletividade.

Certamente um jovem de 16 ou 17 anos já esteve na frente de um empresário ou profissional que, desejando contratar empregado para a empresa que representa, submeteu-o a um interrogatório minucioso, e quis saber tudo da vida daquele jovem, de sua moral, e de seu relacionamento com as pessoas e, sobretudo, daquilo que ele poderia trazer para melhorar a organização.

Agora é você, jovem, o entrevistador. É você que está com o interrogatório nas mãos. Tem que perguntar. E, se as respostas não agradarem, ou se o candidato não atender aos requisitos, despeça-se dele e mande entrar o próximo.

E aquele que responder tudo direitinho, leve-o até as urnas e, como também numa empresa, acompanhe o desempenho dele. Ele tem que dar aquilo que prometeu e para o que você o contratou. Por isso, o primeiro voto, a gente nunca deve esquecer – o primeiro, e nenhum dos outros, ao longo da vida. Somente assim se muda o país. Somente assim, política tem jeito.

Rodrigo de Castro, Deputado Federal e Secretário Geral do PSDB

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